Desafios para a Clínica em um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil do Distrito Federal

Clara Correa Lima, Valdelice Nascimento de França

Resumo


Entende-se que a prática clínica de um CAPSi, alicerçada nos pressupostos epistemológicos da Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB), considera a criança enquanto um sujeito, rompendo com seu lugar histórico de exclusão, a fim de realizar um cuidado ampliado por meio da ótica psicossocial e trabalho de equipe interdisciplinar. Apesar da criação dos CAPSis, sabemos que o campo da saúde mental infantojuvenil é marcado pela inserção tardia do tema no âmbito das políticas públicas. Este estudo de campo tem como objetivo compreender o trabalho clínico realizado num Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi). Foram entrevistados 13 profissionais de uma unidade do Distrito Federal, de forma a investigar as concepções e orientações clínicas dos profissionais e como se dá o processo de trabalho em equipe. Por meio dos relatos dos trabalhadores, foi possível perceber uma situação de precarização das condições de trabalho, que leva a equipe a uma “exacerbação no uso de si”. Além disso, a dificuldade de articulação de rede e a incipiência do campo infantojuvenil são fatores que retroalimentam a lógica ambulatorial nos processos de trabalho e dificultam a interdisciplinaridade.


Palavras-chave


clínica, saúde mental infantojuvenil, CAPSi

Texto completo:

PDF

Referências


Amarante, P. (1996). O homem e a serpente. Fiocruz.

Amarante, P. (2009). Reforma psiquiátrica e epistemologia. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, 1(1), 1-7.

Anjos, N. C. D., & Souza, A. M. P. D. (2016). A percepção sobre o trabalho em equipe multiprofissional dos trabalhadores de um Centro de Atenção Psicossocial em Salvador, Bahia, Brasil. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, 21, 63-76.

Bardin, L. (1979). Análise de conteúdo (L. A. Reto & A. Pinheiro, Trads.). Edições 70; Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1977).

Bercherie, P. (2001). A clínica psiquiátrica da criança: estudo histórico. In O. Cirino, Psicanálise e Psiquiatria com crianças: desenvolvimento ou estrutura (pp. 123-144). Autêntica.

Bontempo, V. L. (2009). A assembleia de usuários e o CAPSI. Psicologia: Ciência e Profissão, 29(1), 184- 189.

Campos, G. W. S. (2003). A clínica do sujeito: por uma clínica reformulada e ampliada. In G. W. S. Campos (Org.), Saúde Paideia (pp. 51-67). Hucitec.

Caregnato, R. C. A., & Mutti, R. (2006). Pesquisa qualitativa: análise de discurso versus análise de conteúdo. Texto & Contexto-Enfermagem, 15(4), 679-684.

Cézar, M. D. A., & Melo, W. (2018). Centro de Atenção Psicossocial e território: espaço humano, comunicação e interdisciplinaridade. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 25, 127-142.

Coelho, J. S. (2012). Construindo a participação social no SUS: um constante repensar em busca de equidade e transformação. Saúde e Sociedade, 21(1), 138-151.

Costa, P. H. A., & Mendes, K. T. Pandemia e Luta Antimanicomial. InSURgência: Revista de Direitos e Movimentos Sociais, 7(1), 125-145.

Costa-Rosa, A. D. (2000). O modo psicossocial: um paradigma das práticas substitutivas ao modo asilar. In P. Amarante (Org.), Ensaios, Subjetividade, Saúde Mental, Sociedade (pp. 141-168). Fiocruz.

Costa-Rosa, A. (2013). Atenção psicossocial além da reforma psiquiátrica: contribuição a uma clínica crítica dos processos de subjetivação na saúde coletiva. Unesp.

Couto, M. C. V., & Delgado, P. G. G. (2015). Crianças e adolescentes na agenda política da saúde mental brasileira: inclusão tardia, desafios atuais. Psicologia Clínica, 27(1), 17-40.

De Vasconcellos, V. C. (2010). Trabalho em equipe na saúde mental: o desafio interdisciplinar em um CAPS. SMAD Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas, 6(1), 1-22.

Delgado, P. G. (2016). São João del Rei: diálogo sobre os caminhos da reforma psiquiátrica. Entrevistadora: Michelle de Almeida Cézar. In W. Melo, P. Resende, S. Baeta & T. Souza (Orgs.), Mobilização, cidadania e participação comunitária (pp. 11-45). Espaço Artaud.

Esper, M. V. (2020). Saúde mental na infância: contribuições da psicanálise. In M. V. Esper (Org.), Experiências diante da saúde mental na infância (pp. 47-59). Appris.

Flick, U. (2009). Qualidade na pesquisa qualitativa: Coleção Pesquisa Qualitativa. Bookman.

França, V. N. de, & Costa, I. I. da (2017). Da clínica do olhar à clínica da escuta: uma passagem pela clínica da reforma no atendimento de crianças e adolescentes com transtornos mentais. In D. M. do Amparo, E. R. Lazzarini, I. M. da Silva, & L. Polejack (Orgs.), Psicologia Clínica e Cultura Contemporânea 3 (pp. 761-778). Technopolitik.

Freud, S. (1980). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos (J. Salomão, Trad.). In J. Salomão (Ed.), Edição standard brasileira de obras completas de Sigmund Freud (Vol. 10, pp. 11-154). Imago. (Texto original publicado em 1909).

Guimarães, J. M. X., Jorge, M. S. B., & Assis, M. M. A. (2011). (In)satisfação com o trabalho em saúde mental: um estudo em Centros de Atenção Psicossocial. Ciência & Saúde Coletiva, 16(4), 2145-2154.

Jerusalinsky, A. N. (1990). Multidisciplina, Interdisciplina e Transdisciplina no trabalho clínico com crianças. In Centro Lydia Coriat, Escritos da Criança n. 3 (pp. 39-44). Centro Lydia Coriat.

Lima, E. M. F. A., & Ghirardi, M. I. G. (2008). Transdisciplinaridade e práticas híbridas em saúde mental. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 19(3), 153-158.

Malta, D. C., & Merhy, E. E. (2003). A micropolítica do processo de trabalho em saúde: revendo alguns conceitos. Revista Mineira de Enfermagem, 7(1), 61-66.

Merhy, E. E. (2013). Ver a si o ato de cuidar. In A. A. Capozzolo, S. J. Casetto & A. O. Henz (Orgs.), Clínica comum: itinerários de uma formação em saúde (pp. 248-267). Hucitec.

Ministério da Saúde. (2004). Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial (Série F – Comunicação e Educação em Saúde). Ministério da Saúde.

Ministério da Saúde. (2005). Caminhos para uma política de saúde mental infantojuvenil. MS; CGDI; SAA; SE. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/caminhos_politica_saude_mental_infanto.pdf

Moebus, R. L. N., & Merhy, E. E. (2015). A terceira margem da clínica: produção do cuidado em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Diversitates International Journal, 7(2), 24-35.

Onocko Campos, R. (2001). Clínica: a palavra negada. Sobre as práticas clínicas nos serviços substitutivos de saúde mental. Saúde em debate, 25(58), 98-111.

Organização Mundial da Saúde (2010). Marco para ação em educação interprofissional e prática colaborativa. OMS.

Pegoraro, R. F., Cassimiro, T. J. L., & Leão, N. C. (2014). Matriciamento em saúde mental segundo profissionais da estratégia da saúde da família. Psicologia em Estudo, 19, 621-631.

Puchivailo, M. C., Costa, I. I. da, & Holanda, A. F. (2019). A naturalização da experiência na atenção à saúde mental: uma questão epistemológica. Revista do NUFEN, 11(1), 1-21.

Ramminger, T., & Brito, J. C. (2012). Cada Caps é um Caps: uma coanálise dos recursos, meios e normas presentes nas atividades dos trabalhadores de saúde mental. Psicologia & Sociedade, 24(1), 150- 160.

Rotelli, F. (2001). A instituição inventada. In F. Rotelli, O. Leonardis, & D. Mauri (Orgs), Desinstitucionalização (pp. 89-100). Hucitec.

Sampaio, M.L., & Bispo Júnior, J.P. (2021). Dimensão epistêmica da Reforma Psiquiátrica Brasileira: significados de gestores, profissionais e usuários. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, 25(1), 1-19.

Silva, S. M. P., & França, M. H. O. (2022). Trabalhando com o mínimo: a saúde mental infantojuvenil no estado da Paraíba. Revista Em Pauta: teoria social e realidade contemporânea, 20(49).

Spink, P. K. (2003). Pesquisa de campo em psicologia social: uma perspectiva pós-construcionista. Psicologia & Sociedade, 15(2), 18-42.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.