Relato de experiência: o amor mundi como expressão do cuidado em saúde mental

Nataly Luana Gomes Silva, Carla Kalline Alves Cartaxo Freitas

Resumo


No cenário político atual brasileiro, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) tem sido afrontada com discursos retrógrados que afirmam a necessidade do modelo manicomial no cuidado em saúde mental.  A exemplo disto tem-se a nota técnica “Nova Saúde Mental” que indica o hospital psiquiátrico como estratégia no tratamento de pessoas em sofrimento mental. Tendo em vista que o enclausuramento e o sentimento de solidão fundamentam a experiência no hospital psiquiátrico, este artigo tem o objetivo de relatar vivências em um CAPS III, localizado no município de Aracaju-SE, que sustentam a liberdade, o respeito e a importância dos vínculos como essenciais no cuidado em saúde mental, em contraposição aos pressupostos do modelo manicomial. Para isto, foram utilizados os registros em diário de campo feitos por uma psicóloga residente em saúde mental durante a sua vivência nesse cenário de prática. Foi observado que as relações entre equipe de saúde, familiares e usuários desse serviço estão pautadas primeiramente pelo cuidado e preocupação com o outro o que evidenciou a presença do sentimento de amor mundi (amor ao mundo) descrito por Hannah Arendt (1990). Deste modo pode-se concluir que as experiências nesse CAPS refletem não apenas possíveis caminhos na compreensão da loucura, mas também novas possibilidades de convivência entre as pessoas no mundo.


Palavras-chave


saúde mental; amor mundi; cuidado; respeito

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