EXPRESSÕES ALIMENTARES EM MULHERES COM OBESIDADE: FACETAS SIMBÓLICAS DO COMPLEXO DO COMER

Maria Desterro Figueiredo, Armando de Oliveira e Silva

Resumo


O palco de compreensão da obesidade é imenso, podendo ser atuado por diferentes áreas. No campo psicológico pode-se ser estudado por um modelo biomédico, sistêmico, social ou psicodinâmico, considerando este último o funcionamento dinâmico da psique. Este estudo tem como base epistemológica os pressupostos da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung e contempla a visão simbólica do ato de comer, com conotações metafóricas do instinto da fome.  Desta forma, busca-se por sentidos que ultrapassam a esfera do biológico, com o propósito de compreender o funcionamento psíquico de indivíduos que procuram pelo alimento em momentos de extrema angustia ou vulnerabilidade emocional, influenciados por uma força psíquica, aqui intitulada de Complexo do Comer Emocional. Entende-se, esta dimensão agindo como um metabolismo psíquico, o qual se apresenta com seu próprio curso, fluidez e função. Propõe-se o entendimento das diferentes facetas simbólicas e dos aspectos envolvidos neste comportamento alimentar. O símbolo traz repercussões mediadoras e transformadoras no dinamismo da psique.  Por meio das frases, de mulheres que participaram de um programa de tratamento para obesidade, procurou-se por essa compreensão, elencando três categorias temáticas próprias do Complexo do Comer Emocional – Afetos Perturbadores, Consciência Corporal e Excessos e Recaídas, para demonstrar a dimensão subjetiva que, em muitos casos, não se faz emergente no plano da consciência. Esta dimensão simbólica, se não considerada e integrada pode se destacar como grande opositora no tratamento multidisciplinar deste fenômeno multifatorial e epidêmico.


Palavras-chave


obesidade em mulheres; psique; símbolo; complexo; comer emocional

Texto completo:

PDF

Referências


Assumpção Júnior, B. F. (2004). A questão da beleza ao longo do tempo. In S. R. Busse (Org.), Anorexia, bulimia e obesidade (pp. 19-29). Manole.

Bardin L. (1977). Análise de conteúdo. Edições 70.

Batista Filho, M., & Rissin, A. (2003). A transição nutricional no Brasil: tendências regionais e temporais. Cadernos de Saúde Pública, 19(1), 181-191. doi: 10.1590/s0102-311x2003000700019

Bernardi, F., Cichelero, C., & Vitolo, M. R. (2005). Comportamento de restrição alimentar e obesidade. Revista de Nutrição, 18(1), 85-93. doi: 10.1590/S1415-52732005000100008.

Campos, C. J. G. (2004). Método de análise de conteúdo: ferramenta para a análise de dados qualitativos no campo da saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, 57(5), 611-614. Recuperado de https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0034-71672004000500019&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt.

Faria, F., Netto, B. D. M., Boritza, K., Bettini, S. C., Vilela, R. M., & Dâmaso, A. R. (2020). Impact of Weight Loss on Inflammation State and Endothelial Markers Among Individuals with Extreme Obesity After Gastric Bypass Surgery: a 2-Year Follow-up Study. Obesity Surgery, 30(5), 1881-1890. doi: 10.1007/s11695-020-04411-9

Figueiredo, M. D., Nasser, S. N., Oliveira e Silva, A., & Radominski, R. B. (2020). O complexo cultural e o complexo do comer: um estudo com mulheres obesas. Phenomenological Studies: Revista da Abordagem Gestáltica, 26(n. esp.), 361-169. doi: 10.18065/2020v26ne.1

Gadotti, C. M., Borges, M. B. F., & Sampaio, S. M. D. (2017). Processar, elaborar, digerir: transtorno alimentar na contemporaneidade, leitura arquetípica. Junguiana, 35(2): 47-58. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/jung/v35n2/06.pdf

Jung, C. G. (1972). Fundamentos de Psicologia Analítica: As Conferências de Tavistock. Vozes.

Jung, C. G. (2008). O homem e seus símbolos. Nova Fronteira.

Jung, C. G. (2011a). Natureza da psique (Vol. 8/2). Vozes.

Jung, C. G. (2011b). Tipos psicológicos (Vol. 6). Vozes.

Jung, C. G. (2011c). A energia psíquica: a dinâmica do inconsciente (Vol. 8/1). Vozes.

Jung, C. G. (2011d). A psicologia do inconsciente (Vol. 7/1). Vozes.

Jung, C. G. (2011e). Escritos diversos (Vol. 11/6). Vozes.

Kimbles, S. L. (2000). The cultural Complex and the myth of invisibility. In T. Singer (Ed.), The vision thing: myth, politics and psyche in the world (157-169). Routledge.

Klotz-Silva, J., Prado, S. D., & Seixas, C. M. (2016). Comportamento alimentar no campo da alimentação e nutrição: do que estamos falando? Physis, 26(4), 1103-1123.

Nasser, Y. B. d’A. N. (2010). A identidade corpo-psique na psicologia analítica. Estudos e Pesquisa em Psicologia, 10(2), 325-338. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/epp/v10n2/v10n2a03.pdf

Nóbrega, A. G. de S. (2006). Vivências e significados da obesidade e do emagrecimento através da cirurgia bariátrica [Dissertação de Mestrado, Centro de Ciências Humana, Universidade de Fortaleza].

Palmeira, A. L., Branco, T. L., Martins, S. C., Minderico, C. S., Silva, M. N., Vieira, P. N., Barata, J. T., Serpa, S. O., Sardinha, L. B., Teixeira, P. J. (2010). Change in body image and psychological well-being during behavioral obesity treatment: Associations with weight loss and maintenance. Body Image, 7(3), 187-193. Retrieved from https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20409769. doi: 10.1016 / j.bodyim.2010.03.002

Penna, E. M. D. (2004). O paradigma junguiano no contexto da metodologia qualitativa de pesquisa. Psicologia USP, 16(3), 71-94.

Penna, E. M. D. (2007). Pesquisa em Psicologia Analítica: reflexões sobre o inconsciente do pesquisador. Boletim de Psicologia, 7(127), 127-138.

Singer, T., & Kimbles, S. L. (2004). The Cultural Complex. Brunner-Routledge.

Sobal, J. (2001). Social and Cultural Influences on Obesity. In P. Björntorp (Ed.), International textbook of obesity (pp. 305-322, Cap. 21). John Wiley & Sons. doi: 10.1002/0470846739.ch21.

Suplicy, H.,Boguszewski, C. L., Santos, C. M. C., Figueiredo, M. D., Cunha, D. R., Radominski, R. (2014). A comparative study of five centrally acting drugs on the pharmacological treatment of obesity. International Journal of Obesity, 38(8), 1097-1103. doi: 10.1038/ijo.2013.225

Swinburn, B. A., Sacks, G., Hall, K. D., McPherson, K., Finegood, D. T., Moodie, M. L., Gortmaker, S. L. (2011). The global obesity pandemic: shaped by global drivers and local environments. Lancet, 378(9793), 804-814. doi: 10.1016/S0140-6736(11)60813-1.

Swinburn, B., Egger, G., & Raza, F. (1999). Dissecting obesogenic environments: the development and application of a framework for identifying and prioritizing environmental interventions for obesity. Prevent Medicine, 29(6), 563-570. doi: 10.1006/pmed.1999.0585

Woodman, M. (2001). A coruja era filha do padeiro: obesidade, anorexia nervosa e o feminino reprimido. Cultrix.

Woodman, M. (2002). O vício da perfeição: compreendendo a relação entre distúrbios alimentares e desenvolvimento psíquico. Summus.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.