A mulher da violência: por que elas permanecem nessa relação?

Angélica Nepomoceno Xavier, Fernanda Garbelini de Ferrante

Resumo


A violência está presente na sociedade desde a antiguidade, possuindo várias definições. Neste artigo a violência será abordada sobre uma perspectiva subjetiva e singular, considerando que o que pode ser violento para um, pode não ser para outro. Entendendo a relevância do tema na atualidade devido ao crescente número de mulheres em situação de violência objetiva-se identificar aspectos que mantém a mulher na relação violenta, partindo da seguinte problemática: o que mantém a mulher na relação violenta? É possível pensar em algo que escapa ao discurso feminino, ou seja, que está inacessível conscientemente, propondo assim a existência de conteúdos inconscientes que esclareçam a permanência da mulher nessa relação? Serão apresentados os conceitos de violência e agressividade; definirá a violência contra a mulher, e o papel da mulher dentro da relação, pontuando os conceitos de co-participação e co-autoria. Além de discorrer sobre a mulher a partir da teoria Psicanalítica, descrevendo os pontos principais da sua constituição psíquica, a fim de identificar aspectos inconscientes relacionados com a permanência da mulher na relação. O estudo foi realizado através de uma pesquisa qualitativa teórica com revisão bibliográfica, e fragmentos de relatos retirados de relatórios elaborados a partir dos atendimentos a mulheres em situação de violência. Os resultados obtidos se baseiam na naturalização da violência, pois possui lugar internalizado no sujeito, ou um meio de satisfação inconsciente, de gozo, considerando a fase pré-edípica como fator primordial para o desenvolvimento psíquico da mulher. E o gozo é entendido enquanto um retorno à primeira experiência de satisfação. Foi possível identificar a existência de aspectos inconscientes por trás dos discursos das mulheres, compreendendo que o que pode mantê-las na relação é esta satisfação, essa forma de gozo diante da violência. Hipoteticamente identificou-se possíveis características masoquistas em relação a posição adotada pela mulher na relação de violência.


Palavras-chave


Violência; Violência contra a mulher; Feminino; Gozo; Psicanálise

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