“Momãe”: Relato de uma experiência clínica atravessada pela morte

Priscila Rutiquewiski

Resumo


O morrer é uma experiência que sempre nos foge, uma vez que a morte é a ausência de toda e qualquer representação, e, logo, nela não há atividade psíquica. Neste cenário psicanalítico, se não há registro da morte no inconsciente, a imortalidade torneia a fantasia que criamos em torno desse não saber fundamental. Para tanto, o presente artigo elucida um caso clínico de uma adolescente que chega ao consultório decorrente da perda de sua mãe e a partir do qual se discorre sobre a elaboração do luto, sendo este um processo de identificação com o objeto perdido, no qual há retirada gradual do investimento libidinal nesse objeto e investimento em novos. Esse processo não implica o desligamento total, tendo em vista que a ligação com o objeto interno permanece e é ressignificada. Assim, aborda a busca por ressignificar o vazio do laço amoroso e o não sentido da finitude, o real exposto pela falta do objeto, para, deste modo haver uma saída frente ao desamparo.  

Palavras-chave


Psicologia; Psicanálise; Morte; Luto; Infância

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